Singularidades de uma Rapariga Loura de Eça de Queirós, 1901
Um gracioso conto sobre o início de um romance em formato aúdio.
Devido a fatores vários, tais como a leitura de um livro tremendamente enfadonho que me leva consequentemente a sucumbir ao sono antes do fim do primeiro parágrafo, e ao facto de a minha prole demorar anos-luz a adormecer, não tenho previsões para terminar o meu companheiro literário atual, do qual não estou propriamente a desgostar a ponto de desistir. Tenho pudor em largar livros, porque receio estar a perder uma grande obra que só no fim faça todo o sentido, já me aconteceu, penar a ler um livro, mas no fim sentir que foi uma história importante e até marcante.
Tudo isto me impulsionou a experimentar os audiolivros, uma ferramenta bastante útil, prática, descomplicada, como estes tempos assim obrigam, que serve as mais diversas situações, como por exemplo, caso a visão me falte um dia (tocar na madeira 3x ), algo que por vezes me passa pela cabeça dada a predisposições para a especulação de fatalidades. Portanto fiquei delirante por saber desta solução de livros lidos. Não foi preciso esperar a tal calamidade, surgiu a necessidade antes, e procurei algo gratuito e curto, para efeitos de prova. A procura pelos catálogos fez-me lembrar a escolha sinuosa de uma série nas plataformas de streaming, que leva tanto ou mais tempo que a duração dum episódio de uma sitcom.
A escolha deste título deu-se sem muita delonga, escolhi um autor português que é simultaneamente um clássico, que quis acrescentar, pomposamente ao meu cardápio.
Gostei desmedidamente! Tanto do conto em si, como da narração, como da ferramenta. O pior é que fiquei com vontade de o ler efetivamente, para mais, sendo tão curto. Ora isto não me resolve o problema, pelo contrário, cria o de acrescentar títulos à minha infinita lista.
Dizer que lemos um audiolivro não me parece certo, mas ainda não se inventou a palavra catita, porque a expressão "ouvir um livro" é demasiado literal e apática. Confesso que da vasta obra deste prestigiado escritor só li a obrigatória, "Os Maias", não me custou nada nesses tempos idos da adolescência, li-o nas férias e foi agradável, mas não o suficiente para voltar a Eça. Na verdade, para o 11º ano não é de todo adequado esta escrita tão fina em contexto desatualizado e francamente beto. Para cativar leitores não é de todo o chamariz mais apelativo.
A escrita é muito elegante, muito bem caracterizada, cheia de peculiaridades engraçadas, o autor reveste tudo de um humor suave, sem extravagâncias, mas cravejado de ironia. A escrita é limpa, sóbria, talvez um pouco rígida, e retrata fielmente a época, no estrato social das personagens. Mergulhamos facilmente na atmosfera e na história, história essa, deliciosa.
Agora estou a ouvir "A Cidade e as Serras" leitura audível essa já não tão orgânica, talvez os contos sejam mesmo a melhor opção, pelo menos para quem se está a iniciar nestas andanças, por serem menos exigentes no que à estrutura diz respeito.
Deixo o link de onde ouvi esta singular narrativa.
https://www.neolivros.com/titulo/singularidades-de-uma-rapariga-loura/